A fase medieval do antigo mosteiro de Rates constitui um dos mais importantes capítulos da arte românica em Portugal. A sua importância na história monacal nacional, as relações que então estabeleceu com os poderes dirigentes e a relevância das formas arquitectónicas e escultóricas aqui empregues fazem deste monumento um verdadeiro caso de estudo, cujas conclusões ultrapassam, em muito, o mero conteúdo monográfico e reflectem-se em toda a produção românica do nascente reino de Portugal.
As suas origens antecedem, todavia, a nacionalidade. A lenda perpetuou a existência de um estabelecimento cristão patrocinado por São Pedro de Rates, mítico primeiro bispo de Braga, hipótese que, como foi demonstrado, remonta essencialmente ao século XVI. Os vestígios materiais mais antigos identificados no local recuam à época romana, designadamente fragmentos de Sigillata Clara, mas os elementos que podemos relacionar com a igreja datam já do período asturiano-leonês. A partir do estudo de Manuel Luís Real, foi possível concluir pela existência de uma fase construtiva verificada entre os finais do século IX e os inícios do seguinte, a que correspondem numerosos fragmentos, entre os quais aximezes, um capitel prismático vegetalista e um altar decorado com cruz. Nas recentes escavações, o conhecimento acerca do templo pré-românico alargou-se a outros elementos, casos de um aparente ante-corpo ocidental, provável narthex do templo pré-românico. Nesta parte do edifício, foi encontrada uma estela romana, posteriormente cristianizada pelos séculos VI-VII e, ainda depois, reaproveitada na fase pré-românica.
Os avanços e recuos das campanhas românicas conferem ao monumento um estatuto ímpar, multiplicando-se as influências estilísticas, de Braga, de Coimbra, de França (Borgonha), etc. O programa iconográfico do portal principal, apesar de drasticamente reduzido, é um dos mais completos do nosso românico. No tímpano, Cristo envolvido por mandorla, é ladeado por dois profetas que espezinham duas outras figuras, que Ferreira de Almeida entende representarem “sem dúvida, Judas e o herege Ario”. No portal lateral Sul, o tímpano é envolvido por um arco cairelado e ostenta um Agnus Deiacompanhado pelos símbolos dos Evangelistas.